segunda-feira, 28 de maio de 2012

Eles não sabem ler. E agora?


Matéria publicada no Jornal da Tarde, 22 de maio de 2012.
Alguns especialistas chamam de “Era do Conhecimento” ou “Sociedade da informação” o mundo atual em que vivemos. Nesta sociedade contemporânea a habilidade mais básica que todo cidadão deve possuir é a proficiência em leitura. Lamentavelmente, esta habilidade básica não foi comunicada ao cidadão brasileiro médio, visto que apenas 1% dos estudantes brasileiros possuem habilidades avançadas em leitura. Em países realmente desenvolvidos, este percentual é de 15%. Outra triste constatação é o fato de 55% dos jovens brasileiros estão no nível mais baixo de proficiência em leitura. Entre os países participantes de uma avaliação internacional, o Brasil foi o país com maior percentual de jovens no nível mais baixo de habilidades em leitura. Vale ressaltar que estes dados referem-se a uma avaliação que contou apenas com jovens estudantes, na faixa de 15 anos, sem grande defasagem de ensino. Se incluirmos na análise os mais de 80 milhões de adultos que não possuem o Ensino Médio, constatamos que o Brasil possui uma nação de semiletrados, o que coloca o nosso país em grande desvantagem competitiva internacional. Muitas empresas tentam contribuir com a sociedade, mas estão tratando o problema com o remédio errado. Existem inúmeros núcleos de capacitação profissional financiados pela iniciativa privada e pelo Governo, contudo, estão tentado profissionalizar jovens que ainda não sabem ler de forma articulada. O problema da desigualdade é mais básico e não será resolvido com cursos profissionalizantes para analfabetos funcionais.
A profissionalização necessária para a maioria dos cargos disponíveis é a capacidade plena de expressão oral e escrita e de realização de cálculos básicos. Estas competências podem ser obtidas concluindo com êxito o Ensino Médio. O cumprimento desta básica etapa garante empregabilidade e livra o jovem do subemprego e demais constrangimentos sociais. No Instituto Direcionar, bons resultados estão sendo percebidos como resultado de aulas de português e oficinas de leitura. Nestas oficinas os jovens tem a oportunidade de exercitar a oralidade e melhorar sua fluência. Doutores em matemática afirmam que o português é a base para um bom desempenho nas disciplinas exatas, pois capacita no entendimento do enunciado dos problemas.
O domínio pleno da língua portuguesa obedecendo aos critérios da norma culta é o que alguns especialistas em educação chamam de “linguagem da oportunidade”. Esta definição é bastante objetiva, prática e, além disso, encerra a improdutiva discussão sociológica sobre a liberdade do jovem expressar-se com gírias ou utilizando um dialeto de suas comunidades. Independente de sua origem ou forma de falar entre amigos, o estudante deve ser preparado na escola para falar a linguagem do trabalho, dos estudos e dos negócios. É a linguagem que o jovem precisará utilizar para ser aprovado em uma entrevista de emprego e para ser bem-sucedido em uma redação no vestibular. Nossa sociedade possui um longo caminho a percorrer para realizar uma grande reforma educacional em nosso país, mas podemos avançar bem rápido se nos atentarmos para a real necessidade que temos. Nossos jovens não precisam de cursos profissionalizantes, eles precisam ser alfabetizados.
O autor, Eduardo Filho, é especialista em educação e presidente do Instituto Direciona.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Relato Reflexivo


Relato Reflexivo
É um dos mais valiosos instrumentos para sabermos sobre nós mesmos, pessoal e profissionalmente, possibilitando uma análise sobre o trabalho realizado juntamente com a sistematização dos saberes adquirido.


Relato Reflexivo realizado pela aluna Maria Cristina.


O curso proporcionou muitas contribuições para o desenvolvimento do trabalho realizado com a leitura e escrita em minha disciplina e na atual ocupação do cargo de Coordenadora. Atualmente, ao trabalhar a leitura e a escrita na escola me preocupo como tipo de gênero que vamos trabalhar com os alunos. O que leem? Como Leem? Por exemplo: artigos de opinião, crônicas, romances, classificados, reportagens jornalísticas, charge, romance, biografia, imagens, etc. De forma compartilhada, dirigida, sequenciada, em voz alta, silenciosa, com continuidade do leitor, em roda de história, se realizam a leitura de fruição.  É orientado que seja  feita a interpretação oral e escrito do texto trabalhado.
Aprendi também que é preciso ter prazer no momento da leitura: ler com entonação e emoção, respeitando as pontuações do texto, fazer com que os alunos que apresentam timidez na leitura quebre sua limitação. A partir destas dificuldades é necessária que o professor dê um enfoque maior a leitura em voz alta, dramatizando a história (leitura dramatizada), propondo seminários e debates.
A tecnologia se faz presente em quase todos os momentos de nossas vidas e não poderia deixar de estar também na escola. Nossos alunos que muitas vezes apresentam dificuldades para assimilar os conteúdos são os mesmos que manuseiam com destreza toda a parafernália tecnológica. Este importante recurso não pode e nem deve ser desprezado pela escola. O desafio é introduzi-la de forma organizada e atrativa. Para isso é necessário que nós professores estejamos ligados, para buscar, selecionar e intervir no momento propício. É importante levantar questionamento, despertar para o novo de forma responsável. Descobrindo caminhos e possibilidades de crescimento intelectual.
No blog inicialmente achei muito difícil, aprendi mexendo no computador e também pela necessidade de o professor estar sempre se atualizando, buscando novos saberes, que nos auxilie na transmissão das informações de formas inovadoras. O professor deve estar aberto às novidades e as condições de utilizar as novas tecnologias em benefício do educando, mostrando-lhe como é possível aprender mais e melhor através dos avanços.
O curso foi excelente, trouxe muitas contribuições significativas para o nosso trabalho em sala de aula, espero ter oportunidade de participar de outros cursos elaborados pela escola de formação.

Ler para aprender a ler

Texto redigido por Isabel - grupo 5

O conceito de texto é muito amplo e complexo, pois a sua construção dá-se da junção da produção e da interpretação, isso é independente da forma que ele se apresenta, só será de fato texto quando lhe for atribuído um significado. De acordo com ROJO (2002) “O discurso/texto é visto como conjunto de sentidos e apreciações de valor das pessoas e coisas do mundo, dependentes do lugar social do autor e do leitor e da situação de interação entre eles...”. Além disso, o texto pode ser representado nas diferentes linguagens presentes em nosso cotidiano, e muitas se fundem ou se completam para se manifestar com sentido e significado. Dessa forma para que o aluno consiga ser um leitor proficiente, ele precisa desenvolver uma série de habilidades que vão além do simples reconhecimento dos códigos linguísticos. E é esse o trabalho que o professor, enquanto mediador do processo ensino aprendizagem deve realizar.
É importante enfatizar que além de conhecer bem o conteúdo, o professor precisa conhecer e saber usar as estratégias, meios para apresentá-los e desenvolve-los junto aos alunos. Estratégias de leitura: antecipação, inferência e verificação são pontos básicos das atividades propostas para o encaminhamento do ensino da leitura e consequentemente o desenvolvimento das capacidades e ou competência leitora dos alunos. Assegurar ao aluno o contato com a diversidade de textos que circulam em nossa sociedade, também contribuí para o desenvolvimento de habilidades, tanto de leitora como de escrita.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Letramento e capacidades de leitura para a cidadania


Roxane Rojo
 Ler é melhor que estudar”. Esta frase de Ziraldo, já famosa, viroubotton e foi carregada do lado esquerdo do peito por parte de nossa juventude. Ela nos remete à ineficiência da escola e a sua distância em relação às práticas sociais significativas. Um depoimento de Miúcha, irmã mais velha de Chico Buarque de Hollanda e filha de Sérgio Buarque de Hollanda, historiador de Raízes do Brasil, pode nos esclarecer a razão da unanimidade desta parcela da juventude sobre como se aprende a ler fora da escola:
Sua [de Sérgio] influência sobre Chico e os outros filhos se dava de forma sutil. As paredes da casa da família eram cobertas por livros, e o pai incentivava a leitura através de desafios. ‘Ele não ficava falando para a gente ler’, conta Miúcha. ‘Mas era um apaixonado por Dostoiévski, conversava muito sobre ele. Nós todos líamos. E tinha Proust, aquela edição de 17 volumes. Ele dizia, desafiando e instigando: ‘Proust é muito interessante, vocês não vão conseguir ler, é muito grande. Ah, mas se vocês soubessem como era madame Vedurin...’ Aí todo mundo pegava para ler.” (Regina Zappa, Chico Buarque, pp. 93-94)

Ler é melhor que estudar”. Esta é uma opinião quase unânime e compartilhada pela população letrada e pertencente às elites intelectuais brasileiras: intelectuais, professores do ensino fundamental, médio e universitário, jornalistas, comunicadores da mídia. No entanto, a maior parcela de nossa população, embora hoje possa estudar, não chega a ler. A escolarização, no caso da sociedade brasileira, não leva à formação de leitores e produtores de textos proficientes e eficazes e, às vezes, chega mesmo a impedi-la. Ler continua sendo coisa das elites, no início de um novo milênio.
Isso se dá, em boa parte, porque as práticas didáticas de leitura no letramento escolar não desenvolvem senão uma pequena parcela das capacidades envolvidas nas práticas letradas exigidas pela sociedade abrangente: aquelas que interessam à leitura para o estudo na escola, entendido como um processo de repetir, de revozear falas e textos de autor(idade) – escolar, científica – que devem ser entendidos e memorizados para que o currículo se cumpra. Isto é feito, em geral, em todas as disciplinas, por meio de práticas de leitura lineares e literais, principalmente de localização de informação em textos e de sua repetição ou cópia em respostas de questionários, orais ou escritos.
Mas ser letrado e ler na vida e na cidadania é muito mais que isso: é escapar da literalidade dos textos e interpretá-los, colocando-os em relação com outros textos e discursos, de maneira situada na realidade social; é discutir com os textos, replicando e avaliando posições e ideologias que constituem seus sentidos; é, enfim, trazer o texto para a vida e colocá-lo em relação com ela. Mais que isso, as práticas de leitura na vida são muito variadas e dependentes de contexto, cada um deles exigindo certas capacidades leitoras e não outras.
Neste pequeno texto pretendo discutir como penso que as práticas de letramento e de leitura escolar, em todas as disciplinas da educação básica, deveriam ser diversificadas e alargadas, de maneira a preparar nossos jovens para uma leitura cidadã, inclusive na escola.
Procedimentos, estratégias e capacidades de leitura
Ler envolve diversos procedimentos e capacidades (perceptuais, práxicas, cognitivas, afetivas, sociais, discursivas, lingüísticas), todas dependentes da situação e das finalidades de leitura, algumas delas denominadas, em algumas teorias de leitura, estratégias (cognitivas, metacognitivas).
Podemos chamar de procedimentos um conjunto mais amplo de fazeres e de rituais que envolvem as práticas de leitura, que vão desde ler da esquerda para a direita e de cima para baixo no Ocidente; folhear o livro da direita para a esquerda e de maneira seqüencial e não salteada; escanear as machetes de jornal para encontrar a editoria e os textos de interesse; usar caneta marca-texto para iluminar informações relevantes numa leitura de estudo ou de trabalho, por exemplo. Embora estes procedimentos requeiram capacidades (perceptuais, práxicas, etc.) não constituem diretamente o que é normalmente denominado, nas teorias, capacidades (cognitivas, lingüístico-discursivas) de leitura.
O conhecimento sobre o conjunto de capacidades de todas as ordens que são requeridas nas diversas práticas de leitura vem crescendo acentuadamente com o desenvolvimento das pesquisas e teorias sobre leitura que tiveram lugar da segunda metade do século passado até hoje. Acumulou-se, nos últimos 50 anos, muita informação a respeito. E estas informações são dependentes dos focos destas pesquisas e teorias.
Podemos dizer que, no início da segunda metade do século passado, ler era visto – de maneira simplista – apenas como um processo perceptual e associativo de decodificação de grafemas (escrita) em fonemas (fala), para se acessar o significado da linguagem do texto. Nesta perspectiva, aprender a ler encontrava-se altamente equacionado à alfabetização. Dito de outra maneira: alfabetizar-se, conhecer o alfabeto, envolvia discriminação perceptual (visão) e memória dos grafemas (letras, símbolos, sinais), que devia ser associada, também na memória, a outras percepções (auditivas) dos sons da fala (fonemas). Uma vez alfabetizado, uma vez construídas estas associações, o indivíduo poderia chegar da letra, à sílaba e à palavra, e delas, à frase, ao período, ao parágrafo e ao texto, acessando assim, linear e sucessivamente, seus significados. É o que se denominou fluência de leitura. Nesta teoria, as capacidades focadas eram as de decodificação do texto, portal importante para o acesso à leitura, mas que absolutamente não esgotam as capacidades envolvidas no ato de ler.
No desenvolvimento das pesquisas e estudos sobre o ato de ler, através destes 50 anos, muitas outras capacidades nele envolvidas foram sendo apontadas e desveladas: capacidades de ativação, reconhecimento e resgate de conhecimento, capacidades lógicas, capacidades de interação social etc. A leitura passa, primeiro, a ser enfocada não apenas como um ato de decodificação, de transposição de um código (escrito) a outro (oral), mas como um ato de cognição, de compreensão, que envolve conhecimento de mundo, conhecimento de práticas sociais e conhecimentos lingüísticos muito além dos fonemas.
Num primeiro momento, tratou-se da compreensão do texto, do que nele estava posto, ou pressuposto. Nesta abordagem, cujo foco estava no texto e no leitor, na extração de informações do texto, descobriram-se muitas capacidades mentais de leitura, que foram denominadas estratégias (cognitivas, metacognitivas) do leitor.
Posteriormente, passou-se a ver o ato de ler como uma interação entre o leitor e o autor. O texto deixava pistas da intenção e dos significados do autor e era um mediador desta parceria interacional. Para captar estas intenções e sentidos, conhecimentos sobre práticas e regras sociais eram requeridos.
Mais recentemente, a leitura é vista como um ato de se colocar em relação um discurso (texto) com outros discursos anteriores a ele, emaranhados nele e posteriores a ele, como possibilidades infinitas de réplica, gerando novos discursos/textos. O discurso/texto é visto como conjunto de sentidos e apreciações de valor das pessoas ecoisas do mundo, dependentes do lugar social do autor e do leitor e da situação de interação entre eles – finalidades da leitura e da produção do texto, esfera social de comunicação em que o ato da leitura se dá. Nesta vertente teórica, capacidades discursivas e lingüísticas estão crucialmente envolvidas.
Nenhuma destas teorias invalida os resultados das anteriores. O que acontece é que fomos conhecendo cada vez mais a respeito dos procedimentos e capacidades envolvidos no ato de ler. No entanto, a leitura escolar parece ter parado no início da 2a metade do século passado.
Se perguntarmos a nossos alunos o que é ler na escola, possivelmente estes dirão que é ler em voz alta, sozinho ou em jogral (para avaliação de fluência entendida como compreensão) e, em seguida, responder um questionário onde se deve localizar e copiar informações do texto (para avaliação de compreensão). Ou seja, somente poucas e as mais básicas das capacidades leitoras têm sido ensinadas, avaliadas e cobradas pela escola. Todas as outras são ignoradas. É o que mostram os resultados de leitura de nosso alunos em diversos exames, como o ENEM, SARESP, SAEB, PISA, tidos como altamente insuficientes para a leitura cidadã numa sociedade urbana e globalizada, altamente letrada, como a atual.
Capacidades de leitura envolvidas nas diversas práticas letradas
Como vimos enfatizando, diferentes tipos de letramento, diferentes práticas de leitura, em diversas situações, vão exigir diferentes combinações de capacidades de várias ordens. São elas:
Capacidades de decodificação
Compreender diferenças entre escrita e outras formas gráficas (outros sistemas de representação);
• Dominar as convenções gráficas;
• Conhecer o alfabeto;
• Compreender a natureza alfabética do nosso sistema de escrita;
• Dominar as relações entre grafemas e fonemas;
• Saber decodificar palavras e textos escritos;
• Saber ler reconhecendo globalmente as palavras;
• Ampliar a sacada do olhar para porções maiores de texto que meras palavras, desenvolvento assim fluência e rapidez de leitura.
Estas são capacidades básicas, que em geral são ensinadas e aprendidas durante o processo de alfabetização, nas séries iniciais do Ensino Fundamental. No entanto, não se dão por si sós, sem a contribuição de outras capacidades de compreensão, apreciação e réplica.
Capacidades de compreensão (estratégias)8
Ativação de conhecimentos de mundo: previamente à leitura ou durante o ato de ler, o leitor está constantemente colocando em relação seu conhecimento amplo de mundo com aquele exigido e utilizado pelo autor no texto. Caso esta sincronicidade falhe, haverá uma lacuna de compreensão, que será preenchida por outras estratégias, em geral de caráter inferencial.
• Antecipação ou predição de conteúdos ou propriedades dos textos: O leitor não aborda o texto como uma folha em branco. A partir da situação de leitura, de suas finalidades, da esfera de comunicação em que ela se dá; do suporte do texto (livro, jornal, revista, out-door etc.); de sua disposição na página; de seu título, de fotos, legendas e ilustrações, o leitor levanta hipóteses tanto sobre o conteúdo como sobre a forma do texto ou da porção seguinte de texto que estará lendo. Esta estratégia opera durante toda a leitura e é também responsável por uma velocidade maior de processamento do texto, pois o leitor não precisará estar preso a cada palavra do texto, podendo antecipar muito de seu conteúdo. Como dizia Frank Smith (1989), trata-se de um “jogo de adivinhação”.
• Checagem de hipóteses: Ao longo da leitura, no entanto, o leitor estará checando constantemente essas suas hipóteses, isto é, confirmando-as ou desconfirmando-as e, conseqüentemente, buscando novas hipóteses mais adequadas. Se assim não fosse, o leitor iria por um caminho e o texto por outro.
• Localização e/ou cópia de informações: Em certas práticas de leitura (para estudar, para trabalhar, para buscar informações em enciclopédias, obras de referência, na Internet), o leitor está constantemente buscando e localizando informação relevante, para armazená-la – por meio de cópia, recorte-cole, iluminação ou sublinhado – e, posteriormente, reutilizá-la de maneira reorganizada. É uma estratégia básica de muitas práticas de leitura (mas não de outras, como a leitura de entretenimento ou de fruição), mas também não opera sozinha, sem a contribuição das outras que estamos comentando.

Comparação de informações: Ao longo da leitura, o leitor está constantemente comparando informações de várias ordens, advindas do texto, de outros textos, de seu conhecimento de mundo, de maneira a construir os sentidos do texto que está lendo. Para atividades específicas, como as de resumo ou síntese do texto, esta comparação é essencial para medir relevância das informações que deverão ser retidas.
• Generalização (conclusões gerais sobre fato, fenômeno, situação, problema, etc. após análise de informações pertinentes): Uma das estratégias que mais contribui para a síntese resultante da leitura é a generalização exercida sobre enumerações, redundâncias, repetições, exemplos, explicações etc. Ninguém guarda um texto fielmente na memória. Podemos guardar alguns de seus trechos ou citações que mais nos impressionaram, mas em geral armazenamos informações na forma de generalizações responsáveis, em grande parte, pela síntese.
• Produção de inferências locais: No caso de uma lacuna de compreensão, provocada por exemplo, por um vocábulo ou uma estrutura desconhecidos, exerceremos estratégias inferenciais, isto é, descobriremos, pelo contexto imediato do texto (a frase, o período, o parágrafo) e pelo significado anteriomente já construído, novo significado para este termo até então desconhecido.
• Produção de inferências globais: Nem tudo está dito ou posto num texto. O texto tem seus implícitos ou pressupostos que também têm de ser compreendidos numa leitura efetiva. Para fazê-lo, o leitor lança mão, ao mesmo tempo, de certas pistas que o autor deixa no texto, do conjunto da significação já construída e de seus conhecimentos de mundo, inclusive lógicos.
Capacidades de apreciação e réplica do leitor em relação ao texto (interpretação, interação)
Recuperação do contexto de produção do texto: Para interpretar um texto discursivamente, é preciso situá-lo: Quem é seu autor? Que posição social ele ocupa? Que ideologias assume e coloca em circulação? Em que situação escreve? Em que veículo ou instituição? Com que finalidade? Quem ele julga que o lerá? Que lugar social e que ideologias ele supõe que este leitor intentado ocupa e assume? Como ele valora seus temas? Positivamente? Negativamente? Que grau de adesão ele intenta? Sem isso, a compreensão de um texto fica num nível de adesão ao conteúdo literal, pouco desejável a uma leitura crítica e cidadã. Sem isso, o leitor não dialoga com o texto, mas fica subordinado a ele.
• Definição de finalidades e metas da atividade de leitura: Todo o controle do processo de leitura, da ativação de estratégas ou do exercício de capacidades está subordinado às metas ou finalidades de leitura impostas pela situação em que o leitor se encontra. Ler para estudar, trabalhar, entreter-se, fruir esteticamente do texto, buscar informação, atualizar-se, orientar-se. Não há leitura, a não ser, por vezes, a leitura escolar, que não seja orientada a uma finalidade da vida.
• Percepção de relações de intertextualidade (no nível temático): Ler um texto é colocá-lo em relação com outros textos já conhecidos, outros textos que estão
tramados a este texto, outros textos que poderão dele resultar como réplicas ou respostas. Quando esta relação se estabelece pelos temas ou conteúdos abordados nos diversos textos, chamamos a isso intertextualidade.
• Percepção de relações de interdiscursividade (no nível discursivo): Perceber um discurso é colocá-lo em relação com outros discursos já conhecidos, que estão tramados a este discurso. Quando esta relação se estabelece, então, num dado texto, como por exemplo, nas paródias, nas ironias, nas citações, falamos de interdiscursividade.
• Percepção de outras linguagens (imagens, som, imagens em movimento, diagramas, gráficos, mapas etc.) como elementos constitutivos dos sentidos dos textos e não somente da linguagem verbal escrita.
• Elaboração de apreciações estéticas e/ou afetivas: Ao ler, replicamos ou reagimos ao texto constantemente: sentimos prazer, deixamo-nos enlevar e apreciamos o belo na forma da linguagem, ou odiamos e achamos feio o resultado da construção do autor; gostamos ou não gostamos, pelas mais variadas razões. E isso pode, inclusive, interromper a leitura ou levar a muitos outros textos.
• Elaboração de apreciações relativas a valores éticos e/ou políticos: Mas também discutimos com o texto: discordamos, concordamos, criticamos suas posições e ideologias. Avaliamos os valores colocados em circulação pelo texto e destes, são especialmente importantes para a cidadania, os valores éticos e políticos. Esta capacidade é que leva a uma réplica crítica a posições assumidas pelo autor no texto.
A contribuição do letramento escolar e das diversas disciplinas no processo de formação do leitor
Para Bakhtin (1934-35: 142), “o ensino das disciplinas verbais conhece duas modalidades básicas escolares de transmissão que assimila o [discurso de] outrem (do texto, das regras, dos exemplos): “de cór” e “com suas próprias palavras”. […] O objetivo da assimilação da palavra de outrem adquire um sentido ainda mais profundo e mais importante no processo de formação ideológica do homem, no sentido exato do termo. Aqui, a palavra de outrem se apresenta não mais na qualidade de informações, indicações, regras, modelos etc., - ela procura definir as próprias bases de nossa atitude ideológica em relação ao mundo e de nosso comportamento, ela surge aqui como a palavra autoritária e como a palavra internamente persuasiva.”
Ora, a escola e a educação básica são lugares sociais de ensino-aprendizagem de conhecimento acumulado pela humanidade – informações, indicações, regras, modelos –, mas também, e fundamentalmente, de formação do sujeito social, de construção da ética e da moral, de circulação das ideologias. Falar na formação do leitor cidadão é justamente não olhar só uma das faces desta moeda; é permitir a nossos alunos a confiança na possibilidade e as capacidades necessárias ao exercício pleno da compreensão. Portanto, trata-se de nos acercarmos da palavra não de maneira autoritária, colada ao discurso do autor, para repetí-lo “de cór”; mas de maneira internamente persuasiva, isto é, podendo penetrar plasticamente, flexivelmente as palavras do autor, mesclar-nos a elas, fazendo de suas palavras nossas palavras, para adotá-las, contrariá-las, criticá-las, em permanente revisão e réplica.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAKHTIN, M. M. (1934-35/1975) O discurso no romance. In: Questões de Literatura e de Estética – A teoria do romance, p. 71-210. SP: Hucitec/EdUNESP, 1988.
BRASIL (2004) Guia do Livro Didático PNLD/2005 – Língua Portuguesa (5ª a 8ª séries). Brasília, DF: MEC/CEALE/UFMG. http://www.fnde.gov.br/guiasvirtuais/pnld2005/index.html
CEALE (2003) Alfabetizando – Caderno 2: Orientações para a organização do ciclo inicial de alfabetização. Belo Horizonte, MG: CEALE/FAE/UFMG; SEE-MG. http://www.fae.ufmg.br/ceale/caderno%202.pdf.
KLEIMAN, A. (1989a) Texto & Leitor - Aspectos cognitivos da leitura. Campinas: Pontes, 1999.
____ (1989b) Leitura: Ensino e pesquisa. Campinas: Pontes.
____ (1992) Oficina de Leitura: Teoria e prática. Campinas: Pontes/EdUNICAMP, 1993.
MARCUSCHI, L. A. (1996) Exercícios de compreensão ou copiação nos manuais de ensino de língua? Revista em Aberto. Brasília: INEP-MEC.
____ (2001) Compreensão de texto: Algumas reflexões. In: A. P. Dionísio & M. A. Bezerra (Orgs) O Livro Didático de Português: Múltiplos olhares, p. 46-59. RJ: Lucerna.
ROJO, R. H. R. (2002) A concepção de leitor e produtor de textos nos PCNs: “Ler é melhor do que estudar”. In M. T. A. Freitas & S. R. Costa (orgs) Leitura e Escrita na Formação de Professores, pp. 31-52. SP: Musa/UFJF/INEP-COMPED.
SMITH, F. (1989) Compreendendo a leitura. Uma análise psicolingüística da leitura e do aprender a ler. Porto Alegre: Artes Médicas.
SOARES, M. (1998) Letramento - Um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Ceale/Autêntica.
ZAPPA, R. (1999) Chico Buarque para Todos. Rio de Janeiro, Ed. Relume Dumará, 3a edição.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Da Teoria à Prática

Aulas na teoria se transforma em aulas na Prática

Teatro
EE Dr. Fernando Amos Siriani - Bragança Paulista

Informática
Experimento


INTERTEXTUALIDADE NO ENSINO MÉDIO





Posto aqui imagens de um trabalho mediado pela professora Thatiane Oliveira Lima da EE Ossis Salvestrini Mendes, escola que coordeno e a qual promoveu um trabalho com intertextualidade com adaptação de filme.
Parabéns aos queridos alunos do 3 ano do Ensino Médio!!!


A importância de leitura de textos

      São objetivos da escola e das famílias em geral proporcionar às crianças o acesso ao conhecimento e a formação de indivíduos críticos, comprometidos consigo mesmos e com a sociedade, capazes de intervir modificando a realidade, auto motivados e aptos a buscar o aprendizado e o aperfeiçoamento contínuos, o que passa pela formação de leitores competentes.
      É fato sabido que várias gerações têm demonstrado não apenas o desinteresse pela leitura, mas também a incapacidade de fazê-la coerentemente, compreendendo um texto em profundidade, o que inegavelmente limita o indivíduo em suas possibilidades de acesso ao conhecimento culturalmente construído.
      Portanto, é tarefa urgente dos pais e da escola, em todos os níveis, buscar maneiras de estimular, mais do que a capacidade de ler, o prazer pela leitura. Apenas propiciando aos sujeitos leitores o prazer da leitura poderemos construir as competências necessárias para sua apreensão e produção.
      Pensadores como Paulo Freire apontam para o reconhecimento de que a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura da palavra escrita implica na ampliação da possibilidade de leitura do mundo. Assim, concluímos que o não desenvolvimento de bons leitores limita as possibilidades de leitura do mundo, da compreensão da realidade social e da intervenção do sujeito buscando a transformação da sociedade.
      No intuito de desenvolver, desde a mais tenra idade, o hábito e o prazer da leitura, desde a educação infantil devemos oferecer oportunidades de leituras variadas, leitura não apenas de textos escritos, mas a própria leitura e interpretação do mundo em que a criança está inserida e do qual faz parte como ator social.
      O acesso a diferentes tipos de texto, mesmo bem antes da alfabetização, permitirá desenvolver tais capacidades, alem de apresentar à criança elementos constitutivos do texto: vocabulário, estrutura, enredo, coerência interna, elenco de personagens e, além disso, o uso social da escrita, elementos esses que serão fundamentais no processo de alfabetização. Isso porque constatamos que “as crianças constroem conhecimentos sobre a escrita muito antes do que se supunha” (MEC/SEF, 1998, vol.3, p. 123).

Selma de Assis Moura

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 Ps: Acredito na importância de promover a leitura de textos tanto aos nossos familiares quanto aos nossos alunos. Portanto achei importante citar esse texto.